Introdução
O envelhecimento é um processo complexo que afeta vários aspetos da nossa saúde, tornando-nos mais suscetíveis a certas doenças e condições. Os investigadores têm estudado o papel dos antioxidantes e de outros compostos no combate aos efeitos negativos do envelhecimento. Um desses compostos, a ergotionina (ERG), tem recentemente ganho atenção pelos seus potenciais benefícios em doenças relacionadas com a idade, como a fragilidade e a demência. Neste artigo, discutiremos o papel da ERG nas doenças relacionadas com o envelhecimento e as suas possíveis aplicações terapêuticas.
O que é a Ergotionina (ERG)?
A ergotionina (ERG) é um composto contendo enxofre derivado de um aminoácido específico chamado histidina. É sintetizada por certas bactérias e fungos e encontra-se em várias fontes alimentares, incluindo cogumelos, feijão-frade e carne. A ERG atua como um antioxidante, eliminando radicais livres e quelando (ligando) metais de transição que contribuem para o stress oxidativo, que se sabe desempenhar um papel no envelhecimento e nas doenças relacionadas com a idade.
Metabolómica de Sangue Total, Urina e Saliva
A metabolómica é o estudo de pequenas moléculas (metabolitos) em amostras biológicas, como sangue, urina e saliva, para compreender condições fisiológicas e patológicas. Os investigadores têm utilizado a metabolómica para investigar o papel do ERG e de outros compostos em doenças relacionadas com o envelhecimento.
No sangue humano, o ERG encontra-se principalmente nos glóbulos vermelhos (RBCs) e é muito menos abundante na urina e na saliva. Outros biofluidos, como a urina e a saliva, também podem fornecer informações úteis sobre a saúde, pois podem ser facilmente recolhidos de forma não invasiva e são adequados para observação diária.
Fome, ERG e Envelhecimento
Estudos demonstraram que a restrição calórica (RC) ou o jejum intermitente (JI) podem prolongar a longevidade e reduzir o stress oxidativo em vários organismos. Estes benefícios são parcialmente atribuídos à ativação de fatores de transcrição específicos que regulam positivamente os genes antioxidantes. A levedura de fissão, S. pombe, serve como um excelente organismo modelo para estudar os efeitos da fome no metabolismo, pois partilha muitas semelhanças com as células humanas.
Os investigadores observaram que tanto a privação de glicose como a de nitrogénio levaram a aumentos significativos de ERG em S. pombe. De forma semelhante, num pequeno estudo envolvendo quatro jovens voluntários humanos não obesos que jejuaram durante 58 horas, os investigadores descobriram que os níveis de ERG e outros antioxidantes no sangue aumentaram. Estes resultados sugerem que o aumento dos níveis de ERG pode ser uma resposta adaptativa ao stress do jejum tanto em leveduras como em humanos, potencialmente desempenhando um papel protetor nos processos relacionados com o envelhecimento.
ERG em Fragilidade, Demência e Sarcopenia
Fragilidade, demência e sarcopenia são doenças comuns relacionadas com a idade que partilham características clínicas, como o aumento da dependência de suporte vital. Investigadores utilizaram metabolómica de sangue total para estudar estas doenças e descobriram que os níveis de ERG diminuíram significativamente na fragilidade e na demência, mas não na sarcopenia (uma condição caracterizada pela perda de massa e função muscular). Além disso, dos compostos relacionados com o ERG, S-metil-ERG e hercinina também diminuíram na fragilidade e na demência. Esta descoberta sugere que a ingestão ou metabolismo do ERG pode ser afetado nestas condições. A diminuição do ERG, um potente antioxidante, pode contribuir para a progressão da fragilidade, demência e outros eventos relacionados com o envelhecimento, uma vez que se sabe que o dano oxidativo acelera estes distúrbios.
Os investigadores também analisaram a metabolómica da urina e da saliva para obter uma compreensão mais abrangente das doenças relacionadas com o envelhecimento. Descobriram que os níveis de ERG nestes biofluidos não apresentavam diferenças significativas relacionadas com a idade, indicando que são necessárias mais pesquisas para compreender o papel do ERG nestas condições.
Tratamento ERG: Uma Potencial Abordagem Terapêutica
Estudos anteriores demonstraram que o ERG possui efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios que podem ser benéficos no tratamento de várias doenças humanas, como a artrite reumatoide. Além disso, foi demonstrado que a suplementação com ERG alivia o comprometimento cognitivo e os danos oxidativos nos tecidos em modelos experimentais animais. Como resultado, o tratamento com ERG pode ser uma abordagem terapêutica promissora para a fragilidade e demência.
Em conclusão, o ERG é um antioxidante essencial que desempenha um papel vital na saúde humana e nas doenças relacionadas com o envelhecimento. Esta pesquisa lança luz sobre a potencial importância do ERG na fragilidade, demência e outros distúrbios relacionados com o envelhecimento. Verificou-se que os níveis de ERG estavam diminuídos em pacientes com fragilidade e demência, sugerindo que uma diminuição deste antioxidante pode contribuir para a progressão destas condições.
São necessários mais estudos para compreender melhor os mecanismos específicos através dos quais o ERG afeta as doenças relacionadas com o envelhecimento e para determinar os potenciais benefícios da suplementação de ERG como abordagem terapêutica. Ao investigar o papel do ERG em vários biofluidos e utilizando organismos modelo como a levedura de fissão, os investigadores podem obter informações valiosas sobre os complexos processos metabólicos envolvidos no envelhecimento e nas doenças.
No futuro, será crucial realizar pesquisas adicionais, incluindo populações de estudo maiores e mais diversificadas, para validar estes achados e explorar o potencial do ERG como tratamento para a fragilidade, demência e outras condições relacionadas com o envelhecimento. Ao compreender o papel do ERG na saúde e doença humanas, os cientistas poderão desenvolver novas estratégias terapêuticas que possam ajudar a melhorar a qualidade de vida dos idosos e daqueles que sofrem de doenças relacionadas com a idade.
Referências:
1. Kondoh, H., Teruya, T., Kameda, M. e Yanagida, M. (2022), Declínio da ergotionina na fragilidade e comprometimento cognitivo. FEBS Lett, 596: 1270-1278. https://doi.org/10.1002/1873-3468.14299